sábado, 4 de dezembro de 2010

Por de trás dos altos muros do meu castelo

Me lembro quando subia aquela mesma rua pela madrugada a dentro, onde a beleza da vida toda se resumia a uma jornada noturna com os amigos bêbados em qualquer canto. Lembro-me de ter sussurrado ao vento algumas teorias sem o menor pudor, e também de como as minhas verdades se tornavam imortais.
Meus amigos me fizeram acreditar em um mundo de beleza, um lugar onde o companheirismo nunca deixaria que o marasmo de um destino qualquer lhe tocasse. Eu pensava que isso fosse durar pra sempre.
Gostava deles, realmente. Talvez pudessem não entender meu modo de apreciá-los, pois para cada gargalhada que distribuia à seus defeitos, preenchia o vazio de meus conceitos com um pouco da genialidade alheia.
Nas noites em que estávamos pertos um do outro, era como se a simplicidade adquirisse a personalidade de um ente supra-humano, e que, sem exageros, nenhum outro filho da puta poderia ser tão sortudo de viver a vida assim como nós. Exorcizávamos todos os demônios com a alma lavada.
Nesses dias eu desfrutei de uma felicidade peculiar aos mais jovens, e que às vezes fica escondida pela idade que vem. Uma felicidade que não era só duradoura, mas também completa - bastava que os nossos gostos imediatos fossem atendidos. Nenhuma fumaça de algo já muito encrustado em nossas vidas ousou ser oportunista o bastante para que ofuscasse o brilho em nosso olhar. A inocência que nos impedia de evitar o sorriso franco e sincero, sem ter de medir as próprias atitudes pelo medo da reprovação que, a posteriori, se tornaria uma cobrança visceral.
Éramos jovens, éramos felizes.
Desde então, a luz do poste que tinge de vermelho o mesmo asfalto, já não presencia a alegoria cortante dos alegres mancebos. Toda a plenitude de nossas virtudes foi jogada com as cinzas dos cigarros, tragados pelo desespero de crescer. Enfrentar a vida envolveu a separação.
Sou o mesmo observador de antes, mas a paisagem perdeu seu horizonte. A sutileza se perdeu na distorção do silêncio. O mundo me cegou ou fui eu que preferi fechar os olhos?
A memória nem sempre é seletiva, ou talvez o processo seja falho.

sábado, 20 de novembro de 2010

O nômade

Se for amor, que seja verdadeiro. Foram com essas palavras que tudo teve início. Me tomei envolvido calmamente, como um abraço traiçoeiro. Annie foi para mim o maior motivo para as melhores atitudes, ou o contrário.
Talvez pelo seu demasiado desapego e costumeira liberdade nossas discussões se tornaram constantes. No meio do caminho tinha uma pedra...
Mas nem mesmo o amor mais puro pode ser consensual, pois nada em se tratando de seres humanos é decisivo. Apenas a morte é fiel companheira.
Desde então, o único corpo que abracei foi o do meu violão. Annie foi embora vagarosamente pelo caminho que percorremos desde o início. Todas as flores descoloridas e cartas já queimadas pelo ódio de nossas desilusões. Esse não foi o norte que me abençoou em dias melhores.
Mas é certo que para toda fuga haverá duas ou três piores consequências. O que se tem da felicidade são breves momentos, identidades entrelaçadas e logo desfeitas.
Já faz um bom tempo que a sorte abandonou este lugar. Sou um pobre homem com uma pobre alma. O doce ardor do etílico repousa em minhas memórias diurnas, e a densidão dos sentimentos que não soube administrar cuidará de meus sonhos, em uma identidade noturna.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Uma carta para os dias de frio

Não precisa me levar tão a sério, apenas se leve mais a sério
Não tem assim tanto mistério, sem precisar ser estéril
Como contágio venéreo, ou um sorriso sincero
Irradiar confiança, tecer nos fios da esperança
A doce inocência de uma criança
Já perdida, em um caminho só de ida
Já vai indo, percorrendo, se esvaindo
Esconde na malícia proposital sua própria sorte
Joga ao vento, sobre o leito de morte, todo tipo de merda
Que aduba e atribui vida ao corte do seu coração
Feridas na sua alma que nem mesmo meus beijos irão curar
Sorrisos amarelos que minha boca não poderá evitar

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Meio-termo

Tento entender o exato limite entre a seriedade e o descompromisso.
A linha tênue, o rio de águas calmas que divide dois extremos.
O desleixo permissivo do desassossego absoluto.
Talvez as flores não sejam tão coloridas como aparentam, e seu aroma seja qualquer outro atributo ordinário.
Mesmo assim, até os pássaros soarão como ópera quando tudo parecer menos longínquo.
Um suco de maracujá, uma sessão espiritual.
Um soco no estômago e notas distorcidas. Tudo muito rápido enquanto for intenso.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Who's the Cop?

Estar consciente é o primeiro ato.
O piloto automático nos guia por caminhos incertos - e quando o alarme soa, todas aquelas pessoas em seu poder serão vitimadas por sua loucura.
Um milkshake para o brainfreeze necessário. Terno e gravata para ter o que mostrar.
Se a vida não nos ofereceu conteúdo, a morte brindará o nosso sucesso.
Sinta a dor, beije o chão, inspire a pólvora e expire a fumaça. Seu nariz é um cano longo.
Sua boca, uma metralhadora. Bombardeie impressões, devaneios.
No final, apenas o pop sobreviverá. Passaremos como vírgulas, e a história prossegue.

sábado, 11 de setembro de 2010

Para você, que é insubstituível

Quantas vezes busquei por você em um sonho perdido. Quantas vezes já não nos deparamos pelo meio do caminho, mas só no começo da história.
Nos preâmbulos de um vazio qualquer.
Esperei os tempos serem outros, e que conversas realmente fossem um diálogo.
Encaminhando a vida pela certeza de nossas verdades.
Em um lugar tão profundo como é o sentimento recíproco.
Na inviolabilidade do intangível, ou no alcance desse amor.
Hoje e sempre. Lá.


quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Pela sorte de qualquer destino

Palavras repetidas ao longo de um verso já quase apagado.
A mesma impressão de algo que já surrado, não se faz mais necessário;
Por vezes, o ar lhe faltava. Outrora, o chão desabara.
Mas restavam as peças de uma máquina destroçada pela ventania.
Espaços evidentes que, pouco a pouco, tingiram de negro a primavera;
Aquarela é doce distorção, pensamentos que vão de encontro ao não.

sábado, 14 de agosto de 2010

Do bem (sem olhar a quem)

O cosmos gira em espiral.
Beleza que é maior, ampla conexão.
Eterno processo contínuo.
Árduo processo.
Momentos - desejos, sonhos, e trabalho.
Amor em todos os movimentos.
Tudo vive.
Com energia para não apagar o brilho das estrelas, a motivação das pessoas, a atmosfera dos mundos, a harmonia dos sons e a riqueza das cores.
Hoje muito mais que ontem, e amanhã melhor que agora.
Amém.

sábado, 7 de agosto de 2010

Sleep before you die

Uma noite densa para um sentimento profundo.
Um imenso ponto de interrogação tomou espaço em minha cabeça.
Como um arco-íris surgido após uma tempestade.
Dor no coração. Não deveria ser assim.
A autopreservação é também a antidestruição, própria e coletiva.
A segurança seria cliente fiel, se no lugar de desculpas houvesse policiamento.
Se no lugar de uma aparente inocente espontaneidade houvesse consciência, a certeza, certamente, seria minha amiga.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Ao vencedor, as batatas (com cheddar)

Você percebe que está crescendo quando os pedidos de desculpas se tornam cada vez mais raros e difíceis. Digamos que até aqui, onde estou, não tenha sido uma longa jornada. Mas, com certeza, foi um caminho duro.
Eu vi muitos amigos chegarem, sempre recebidos por minha curiosidade. E os vi partir... todos eles partiram. Quem sabe um dia retornem, e então os receberei com o mesmo sorriso curioso.
Também senti muitos sentimentos parecidos com o amor. Todos eles eram apenas um esboço do que hoje desfruto. E sei que valorizar coisas assim, como um carinho e uma doce palavra do bem, dão todo sentido à vida.
Por mais que você erre, caro colega, saiba que amanhã isso pode ser consertado. A única coisa realmente irreversível é a morte.
O melhor da vida é a conquista, e se temos alguém do nosso lado para compartilharmos essas vitórias, com certeza as alegrias virão em dobro. A beleza sempre se multiplica ao ser dividida.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O Interlocutor

Heitor, certa vez, entristecido com os favores que a vida lhe prestara até então, resolveu tomar consigo todas as dores acumuladas em seu coração. No compartimento secreto onde somente ele e a alma gêmea da vez compartilhavam, Heitor sabia que podia entregar a chave a um renomado especialista nas doenças do coração, seu amigo e psicólogo Dr. Phillip.
Naquela manhã fria, onde o sol se impunha como uma virgem nua, visivelmente tínhamos a entrega de uma alma receosa. Heitor, a cada minuto passado na sala de espera, vigorava em seus gestos a tendência suicida perfeita. Mas a divina graça, concedida pelo chamado de seu nome pela secretária Ofélia, relembrou que até os depressivos têm seu anjo da guarda.
Sentado lá, naquela poltrona nova com o confortante cheiro do couro, um homem entregue à sorte da competência de outro.
"Eu estava bastante errado em pensar que um relacionamento se tratava de entrega, de reciprocidade.
A vida tem me ensinado, e com um gosto bem amargo, que não é nada disso. Um relacionamento nada mais é que uma convenção.
É um simples acordo, e que isso esteja implícito, com fins meramente pessoais, e por vezes sociais. Não se trata de bem estar, de jeito nenhum. Creio que nunca em minha vida me senti tão incomodado por estar responsável pelo que a outra pessoa vai pensar.
É como uma via de duas mãos onde temos de estar em dia com nossas obrigações. Se por um lado precisamos entender a necessidade da outra pessoa, atendendo e correspondendo aos seus sentimentos, por outro precisamos nos desvenciliar um pouco dessa figura romântica.
Relacionamentos raramente têm a ver com amor. Na minha opinião, o amor nada mais é do que um consolo para pessoas fracas, que se apóiam nele e buscam ali uma fuga da realidade. O amor é uma droga. Relacionamentos dizem mais respeito ao seu interesse momentâneo, e possivelmente os planos que você constrói em cima de uma pessoa nada mais são do que sua declaração de insanidade."
Como em um flerte ao acaso, providenciado pela necessidade afetiva, Dr. Phillip e Heitor introduzem, cada qual ao seu modo, suas próprias idéias. Da mesma maneira que dados viciados são lançados em um jogo alto.
Seu diálogo encontrava abrigo quando os ecos de suas palavras refletiam suas mesmas incertezas. Em um silêncio profundo, intercalado por vazios ''prossiga'', Dr. Phillip esclarecia de uma maneira quase telepática os questionamentos, e a esta altura da vida, as quase certezas, de Heitor.
Instigando em espírito alheio, como um cão que vaga no campo vizinho, permitiu seu paciente concluir, de modo superficialmente unilateral
"Construir sonhos em cima de alguém é um atestado para a infelicidade. Podemos perceber, com o tempo, que se ater aos desejos do outro é negar a si mesmo. É assumir uma postura inferior, de submissão. E isso não é se entregar, é se render. Você espera em contrapartida receber o mesmo esforço, mas não é o que acontece - por isso é uma rendição, só há um lado nessa história.
É uma visão dura e realista, eu sei, mas essa é que é a verdade. Não tenho simpatia por atitudes infantis, irreais, ou seja lá o que for que isso tenha a ver com o amor. Mas é isso que me parece, uma atitude ultrapassada, impensada, infeliz. "

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Faladora

Sinto pena de você, e não vou pedir desculpas. Existem consequências para uma postura tão impiedosa.
Se para mim isso não faz a mínima diferença, pessoas como você necessitam exercitar um pouco a maldade.
Em sentido amplo, apenas a triste realidade de uma alma incompleta.
Poucas palavras para você, que não as merece por exatidão.
Ofereço a minha distorção de impressões caladas, e a limpeza de minha consciência.

domingo, 18 de julho de 2010

04:30 p.m

Crescente pela manhã - borbulhando idéias, fervilhando pensamentos.
Sonhos nada mais são do que a felicidade proposta sob o prisma da liberdade.
Não há prisão na ausência do vício.
Cheiro de café.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Por quanto tempo eu permanecerei forte?

Saia do meu caminho, não dá mais
Odeio seu sorriso, odeio o som da sua voz, odeio tudo que lembra você
Eu preferiria estar morto, e mesmo antes disso, preferia que você estivesse morta
Sua companhia é um desagrado, e é pelo que menos espero
Saia já do meu caminho, essa é minha carta de ódio
A quem mereça, e à todos que se encaixem em meu propósito

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Lado B

Odiosa percepção de pertencer exclusivamente a um só lugar.
É quase a mesma confusa relação entre não saber lidar sozinho com qualquer outra situação.
Vamos adiante, mas cada passo será dado em direções diferentes.
Temos que sugerir a possibilidade das segundas opções, e sempre termos opções a mais.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Mais uma vez

Depois da tempestade, a cegueira então se foi. Retirei da lama minha própria alma, e assim minha sensibilidade tomou força novamente.
Revigorado, meu espírito na primavera das emoções sinceras.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Manual prático do homem moderno, ou não

Um homem não precisa de muito para ser feliz.
Basta que não lhe falte um pouco de amor, algo de cultura, o bastante de alcóol e muito de gordura.
É preferencial que o amor não seja o de mãe, nem que a cultura sirva para criar um isolamento imbecilóide.
Há de se ter bom senso e não negar a natureza humana - animal indissociavelmente social.
Cultura para que não lhe falte o assunto, e apenas isso.
Gordura. Um homem necessita da constante auto-destruição. Com a real finalidade de propor a originalidade de sua natureza, o homem se vê capaz de introduzir em seu corpo calorias e mais calorias, abastecidas pelo sensato desejo pela comida. Novamente, apenas satisfação momentânea em doses não homeopáticas.
O bastante de álcool lhe fará perceber as pessoas ao seu redor mais interessantes, menos bestiais ou chatas. O mundo se torna belo e, sem hipocrisia ou falso moralismo, o melhor revelador dessa beleza escondida é o álcool.
Fica subentendido que dinheiro é necessário.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Dissonante

Alvin sabia que algo deveria ser feito. Mas não seria ele quem daria este importante passo que, apesar de não ser o primeiro, possuía certo caráter de urgência.
A próxima ação era vital.
Mesmo o amor tendo lhe aberto as pernas do orgulho, ainda existia um fundo falso onde toda a responsabilidade por um relacionamento já havia adquirido a alcunha de barganha. Era como se ele, o mendigo Alvin, propusesse escambo ao diabo, oferecendo sua dignidade de homem como moeda de troca.
Pensava Agnes ser ele o seu único e perfeito reflexo. Mas até mesmo os espelhos não conseguem refletir por completo. Aquebrantam-se sobre sonhos mal alimentados. Sentimentos insuficientemente interpretados.
Agnes e Alvin não gastavam os créditos do amor.
De um lado, a persona do pródigo romântico. Do outro, a feminina alma oblíqua.
É verdade, se por alguns momentos compensavam as naturezas reciprocas na melodia do ardor, por tantos outros esqueciam-se no amargo sabor de qualquer harmonia.
A esperança de Alvin perdia-se nas entrelinhas de suas palavras. Uma aranha presa em sua própria teia.
Agnes, constantemente sob o piloto-automático, estava presa no âmbar da incapacidade em promover uma doce palavra sequer.
Erva daninha do bem querer.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Por todas às vezes que fui negado

Já tenho minha arma engatilhada contra tua garganta,
basta esperar por um momento de descuido e tudo explodirá
Isso também me atingirá, isso também me afetará
Gosto amargo da morte, não sou eu quem vai morrer

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Fight Club

Quando você não dorme, os fantasmas vêm lhe assombrar
Sua cabeça ferve e borbulham pensamentos produtivos
Dignos de um ócio criativo adquirido após anos de não ter o que fazer
Essa cidade tem me sufocado, e a noite encontro o refúgio necessário
Como quando estamos à sós e o universo parece ser apenas seu olhar
É um prazer que me consome, e muito de mim escorre pelo ralo da madrugada
Um tiro no escuro para esclarecer um pouco as idéias, um milésimo de segundo que traz a razão de volta
Eu preciso exercitar meu ato falho algumas vezes ao dia, a simples necessidade do erro não proposital
Me sentir um pouco culpado pelo mal da humanidade alimenta meu desejo de fuga
Essa é minha grande depressão e minha gloriosa guerra

sábado, 12 de junho de 2010

A síntese do caos

Toda vez que procurava por respostas, acabava sempre no mesmo ponto onde outrora havia parado.
Hoje um jovem adulto, ontem uma inocente criança.
Abandonada pela injusta traição.
O monstro estava sendo criado. Primeiro, os pés, com a lama da desonra.
Depois, os membros inferiores, apoiados na solidez do rancor. Após isso, o corpo, sobre o tronco da incerteza.
Membros superiores, tentáculos de um pedido de ajuda. Cabeça não havia, até porque razão também não.
A insanidade então, fiel companheira, tornava os momentos de desespero, íntimos.
Ele se reconhecia em meio à todo aquele caos; era como se tudo isso lhe pertencesse.
Um gigantesco intrumento de cordas o confortava nos momentos onde as batidas de seu coração estremeciam a casa.
O jovem adulto um dia teve um encontro com esse monstro.
Eles se olharam, como em uma comunhão religiosa, e então se abraçaram.
A nova criatura tomou vida. Com a cabeça do homem e o corpo do monstro, assumiram o papel do Frankenstein social.

O Beijo de Judas

Somos os grandes responsáveis pela desventura feminina.
Sim, nós, os homens, nos tornamos os grandes culpados. Vomitem toda a razão sobre nosso bigode.
Porque canalhas, mesmo tingidos pelo charme vistoso do não se valer, não passam de suporte.
Apenas um suporte sexual orientado aos momentos oportunamente gozáveis.
Gênero e sexo podem não se corresponderem, mas haveria de se ter certa coerência, no mínimo.
Me parece que isso é pedir demais.
Pagamos um alto preço pela História; quem me dera essa fosse apenas uma estória.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Pela necessidade da compreensão

Paulo dizia que o mais importante era se sentir bem.
Mas ele mal sabia se o preço que tinha de ser pago deveria ser levado em conta.
Bem, a razão de José dizia que sim.
Mas Paulo era muito mais sentimento que razão, e desde muito cedo sempre foi assim.
Aprendeu levando na cara.
Paulo era sentimental, e José, racional.
Todos vão envelhecendo, mas a fera interna vez ou outra desperta.
Como uma navalha que corta seu rosto quando você está concentrado, algo de muito ruim apertou seu coração naquela noite.
Toda a razão de José fora posta defronte ao seu maior medo, a insegurança.
Sim, porque na certeza de suas afirmações subjetivas é que residia sua razão.
E quando esta, abalroada pela força máxima de um desgosto profundo, se encontrara frágil, eis que a esperança surge com Paulo.
Pois Paulo representava toda a capacidade humana de superar as frustrações apenas pelo desejo de viver algo melhor.
Sim, Paulo é a esperança perdida de José, que não exercitava nem um pouco sua flexibilidade emocional.
Foi então que José e Paulo entraram em um comunhão, quase que espiritual.
Se Paulo era o mais sentimental, José o criticava amparado por sua lógica infalível.
Se José era o exageradamente racional, Paulo também o acusava de ser demasiadamente insensível.
Sobre isso, não restaram dúvidas, trocaram experiências e selaram um novo acordo - algo bem parecido como quando os noivos firmam o matrimônio.
Dessa maneira, Paulo e José puderam apoiar-se um ao outro, não como um amigo ou outra coisa qualquer.
Aquela ligação era algo mais intenso. Na humildade de se assumirem humanos, se propuseram ao entendimento.

sábado, 29 de maio de 2010

Senil

As pessoas vão indo embora
Bem velho como estou, só espero a morte
A minha companhia é o desapego
Material, pessoal, sempre breve tentativa
Antigo e fiel companheiro é o isolamento
Sem nenhum amparo, não restam dúvidas
Bem velho como estou,
Preferiria a juventude eterna,
Amigos canalhas que mal sabem sorrir

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Cítrico

Os meus sentimentos não acompanharam a evolução.
Explico: tenho um lado animalesco que pouco vale nos dias de hoje.
E esse lado é muito mais que a metade; talvez, eu diria, um pouco além da razão.
É o lado emocional demasiadamente aflorescido, mas empobrecido pela negação da dúvida.
A denunciação dessa incerteza é a prerrogativa divina para se talhar a raíz de toda natureza.
Quando digo que sou um homem ancestral, é porque disso tenho quase certeza.
Pode ser que esta não seja absoluta. Mas está bem próximo de algo conclusivo.
Circuitos, sabe-se lá programados por quem, ainda respiram.
Esse robô velho, outrora rejuvenescido pelo tenro nascimento, é também a máquina pensante.
A engrenagem ridícula funcionando à serviço do tempo.
Tal efemeridade que se aglomera, e nos induz ao sono lento e profundo da passividade humana.
Evoluímos da maneira errada, pois só externamente é que se vê a progressão.
Ridiculamente pretenciosos. Incansavelmente contraditórios.
Vagamente obsoletos. Absolutamente hipócritas.

sábado, 8 de maio de 2010

O amargo sabor do erro

Estou constantemente arrependido de minhas escolhas.
O fato de nunca estar satisfeito nos lugares que escolhi permanecer, mesmo que por um curto período de tempo, indica certa tendência em ser auto-insuficiente.
É algo meio que frustrante hoje você elaborar mil discursos que promovam a idéia positiva e já amanhã ser detentor da prerrogativa do ''eu estou arrependido''.
A constante do erro te acompanha, e isso torna as coisas mais solúveis em sua cabeça.
O ato crítico, sempre abalroando qualquer alma tão imperfeita quanto a sua, é infiel parceiro, pois lhe trai no momento em que se mostra tão paradoxal que suas palavras soam burras, tão idiotas à ponto de você parecer um fracassado.
Será que eu não aprendi a fazer escolhas? Será que, de certa forma, sou imaturo?
Muitas respostas eu abandonarei no vão dos meus medos indigestos. Não, não faço questão de ir ao divã.
Talvez isso fosse o mais sensato, mas esquivar do caminho e fazer a cabeça é melhor.A
gente abre a cabeça para as coisas que nos interessam, ainda que momentaneamente. Mas a gente também consegue sintetizar em palavras, tão limitadas quanto nossa visão, o discurso quase que perfeito para uma não aceitação qualquer.
E, vai saber, não é isso que esteja nos impedindo de ir pelo caminho do agrado.
Quem sabe, um conceito pré concebido não seja a pedra no percurso.
Perdi o interesse em minha alma, dei atenção demasiada à razão de outros, e por aí eu fui me perdendo na cegueira dos idiotas.
Eu sou fraco, estúpido e hipócrita.
Mas não quero perfeição, prefiro a humanidade.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Clara e salgada

Uma lágrima que cai por amor nunca deve ser lamentada.
Uma lágrima, por mais amarga que seja, nunca deve ser esquecida.
Eu aprendi a ser forte, e não demonstrar minhas fraquezas.
Mas, não me ensinaram a enganar a dor. Não me ensinaram a chorar.
Quando você abre a guarda tudo vem à tona. Você percebe que faz bem ser humano.
Em um mundo onde os sentimentos se perderam, momentos raros assim nos permitem respirar.
E aí nos vem a epifania necessária para que possamos continuar vivos.
Porque vale a pena sentir, e vale a pena não ser tão forte.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Aqui jáz melancolia

Vamos lá, pouco a pouco, de regresso. Retornaremos de onde partimos.
Retomaremos o controle da situação, e nossas próprias escolhas tornarão tudo mais original.
Naquela época onde a inocência tecia seus novelos em minha vida - eu desejaria nunca ter partido.
Esta estrada, a que os outros atribuem a alcunha de experiência, me deu um pouco de dignidade.
Agora é tempo de olharmos para o amanhã, e faremos um novo recomeço.
Faremos do amor uma lei, transformaremos toda injustiça em fantasia, e toda forma de beleza reinará.
É claro que levaremos conosco boas músicas, boas leituras e mais um pouco de cultura qualquer.
Encontraremos por aí a natureza, e pelo caminho, um pouco mais do que Deus nos reserva.
Apagarei algumas páginas, e outras farei questão de mantê-las intactas.
Boas lembranças são valiosas também.
Vamos lá, vamos embora comigo.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Digira, depois cuspa

A gente perde o interesse, o rumo e o dia, prostrados sob a agonia de não saber o que inferir
A gente perde a cabeça, a razão e o controle, toda vez que mostramos ao mundo as nossas fraquezas
Meras incertezas, devaneios e precipitações, atos impensados, pensamentos mal interpretados, tudo pelo avesso
Uma lição apenas, certamente, não é o bastante para que as melhores atitudes florescam
E que certa liberdade moral também não deva servir como sua alforria ao maldito desapego
As palavras vão se tornando armas, e os gestos vão se tornando bandeiras brancas
Pedindo arrego toda vez que uma ferida for aberta, pedindo perdão toda vez que algo soar indiscreto
Não quero mudar, moldar ou emoldurar seus sentimentos às minhas preferências vazias
Mas pretendo, de todo e qualquer modo, atar a ponta da minha vida à sua, tornando-as unas e indivisíveis

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Sobre a pequenez de nossas certezas

Medo, tenho medo
Qual homem não tem medo?
Ter medo não lhe torna menos homem
Pelo contrário, revela sua capacidade humana
Medo e insegurança, são irmãos atraídos pelo fracasso
Insegurança é talvez o sentimento mais desprezível que demonstramos
Já o medo é sublime, como uma inocente criança tímida
E que, por vezes, revela-se rebelde, egoísta e pretenciosa
Eu tenho medo de lhe perder
Medo de que minha insegurança abrace sua liberdade
Medo de que sua risada pertenca aos encantos de outro
Primavera das ilusões
Eu tenho medo de lhe perder
Mas que meu medo não fique evidenciado nos atos impensados
Nos fracassos mal explicados e devaneios arredios
Se num sorriso lhe presenteio à segurança
Em um abraço lhe ofereço conforto
Perceba em meu olhar a desconfiança, a obliquidade
Não a dissimulação, mas sim a simulação do não estou nem aqui
E que seja bem por aí, enquanto houver sol

terça-feira, 20 de abril de 2010

Fotos, Fatos, Fardos - O Furto da Felicidade

Onde nos perdemos?
Em que lugar no passado abandonamos a direção?
Ali, onde o sol já se fazia brilhante, hoje nada mais é do que o lugar onde as sombras predias descansam,
E se fazem cruéis
Saber quem fomos é importante exercício de fortalecimento pro que somos
E a espontaneidade de um sorriso?
De certa maneira, deixamos as rédeas serem entregues às mazelas do acaso

In natura

A união das almas é indissolúvel; a reunião das águas, absoluta.
Resplandescente é o sol, remanescentes são as previsões.
O ciclo se cala, e ainda se comunica; o sacro nos ouve, e também nos fala.
A natureza nada atura;
Na certeza que perdura, naturalmente, das almas, águas, sóis e previsões, ciclos e sacralidades.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Me ofereça o novo

Ó Deus, até quando sentirei este velho resmungar sob minha juventude
Perceber que o mesmo é seu fiel companheiro
A tendência ao dejávu perceptivo é a velhice
Ou seria a tendência a senelidade?
Ó Deus, se todos um dia vão morrer, se todos eles perecerão
Por que, Deus, eu deveria lhes oferecer outra saída?
Já faz muito tempo, quando éramos receptivos às novidades
Quando as flores eram parte de um jardim e não o contrário
Definir o todo pela individualidade e não a individualidade pelo todo
É isso, Deus, isso que é ser demasiadamente velho?
Velho demais é quem já não rejuvenesce, filho, quem nunca se enquadrou ao seu tempo
Não nascemos para observar, somos os filhos da ignorância e do lugar comum

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Incorpóreo

Sou só imagem, mas nem sequer imagem e ação
Sou só imagem, com um pouco mais de imaginação
Se sou só imagem, sou passível de correção
Controle de matiz, sintonia e sintomas
Serei imagem, tão quanto serás recepção
Receptividade, Reciprocidade
Serei imagem, sim, continuarei sendo
Até certo tempo em que a sintonia não encontre definição
E então, sendo jaz uma imagem, serei algo mais
Próprio de incompreensão, certo de inexatidão

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Retalhos de um quase amor

É engraçado, você veio à mim como quando um filho vem à mãe precisando de um pouco de atenção.
Certo alívio por ter certeza de encontrar ali uma palavra acolhedora e sentimentos verdadeiros.
Como alguém que busca nos ciúmes a premissa que justifique um amor distorcido.
Você veio à mim procurando impor-me dúvidas que aliviassem suas certezas e ofuscassem minha tranquilidade.
Presos ao tempo de um encontro casualmente planejado pela imprevisibilidade.
Apenas mais uma menina perdida, em busca da aprovação masculina.
Só elogios lhe trarão esse prazer que, infelizmente, não é exótico.
Internamente existem sonhos pincelados por sorrisos hollywoodianos.
Externamente, um desbotado vômito de cores sem vida.

Aprimore

A impressão de que nada acontece.
A certeza que a vida não caminha.
Certa dúvida que precede a mudança.
A impossibilidade de se planejar algo mais à frente.
Não consigo traduzir bem o ódio.
Nem posso digerir a incerteza.
Preciso encontrar meu nicho.
É necessário buscar minha natureza.
Boa época para exterminar as ervas daninhas.
Não mais apenas as evitar, eventualmente.
Olhar pra frente. Sempre à frente, num primeiro momento.
Vez ou outra espiar pelo retrovisor. Seguir indiferente.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Somewhere Over the Rainbow

Fantasmas do passado reapereçem
Como em um capítulo inesperado, em minha vida
Eles ainda não morreram em minhas lembranças
E, mesmo assim, causam-me certo temor
Mal acabado, sempre interrompido e nunca terminado
Agora, muito mais que antes,
A medida das palavras tem o tamanho exato de minhas intenções
De uma maneira discreta eu os levarei de volta
Ao lugar de onde nunca deveriam ter saído
Destino é a melhor resposta,
E também o questionamento mais adequado

terça-feira, 30 de março de 2010

Ácido, Açúcar e Cafeína

Se você estiver ansioso, pense três vezes.
Estou recomeçando da forma mais espontânea, e é tudo mais do mesmo.
Talvez com um pouco mais de classe, talvez com uma inocência que ignoro.
A gente cospe no prato e come a merda toda de novo.
A gente não respira nem um pouco fundo e faz tudo da maneira mais errônea possível.
É, podia ser melhor.
Se você estiver descontente, vomite todas as suas esquisitices.
É melhor que cheire mal.
É melhor que não seja bom, e que venha acompanhado de um sorriso unilateral.
Não se trata do forçosamente mal, e sim do naturalmente indiferente.
Deliciosamente frio, deliciosamente obscuro.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Eu, por mim mesmo

Esse meu modo de pensar está bem arraigado em meu dizer
Não faz sentido você querer mudar, eu também não acredito que valha a pena poder
Para mim, isso não tem uma importância tão expressiva, porque eu não saio por aí vomitando verborragias
Tenho bom senso, e isso já basta
Quem dera todos poderem ter um pouco disto
Silenciar no momento certo, saber se portar, chegar e sair
É claro que não sou extremista, suporto muitas situações
Sou até simpático em certas ocasiões
Alguns acham isso tudo uma grande frescura, não ser inoportuno realmente incomoda as almas mais infelizes
Mas que fique aqui como relato e até como registro
Quem sabe um dia as coisas se tornem menos tempestuosas

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Delay

O tempo nos causa o encrustamento de certos sentimentos
Como aquele velho sentimentalismo bobo por lembranças boas
Sim, é verdade, hoje tudo é menos colorido
Talvez agora não possamos sentir os aromas, cores, e a intensidade
Como tudo acontecia, e como tudo que era novo também era bom
Sonhos tão breves como o desejo pela figura que a bala trazia
Ela também tinha um inesquecível sabor de lembrança
Quando os muros, tão brancos, eram os mais altos
Onde podíamos driblar a necessidade da brincadeira, e atender o prazer repentino
Pedindo passagem no ramo das saudades
Eu caminho por esses caminhos, que mais me parecem uma selva interminável
E descubro que no meio dele existem poças secretas, cheias de água cristalina e bons momentos vividos
E aí eu me teletransporto ao passado, ao som da melodia que ecoa por aí
Perto de algum neurônio sobrecarregado, ao lado de onde repousam meus vícios

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Negar à si mesmo

Deus falhou.
Em sua peregrinação pelos confins da crença humana ele caiu.
Deus está ultrapassado, velho e sem charme.
Ele não é mais aquele cara que pensávamos ser. Hoje, ele não passa de alguém que, simplesmente, não dá a mínima.
O onipotente, onipresente e onisciente Deus falha.
Nós insistimos em recriar este desgraçado todos os dias.
Agimos feito idiotas hipócritas e inconvenientes. Assim, Deus também é egoísta.
Ele é insensível, mau e estúpido. É o próprio diabo.
Uma entidade já criada pela fé de outra pessoa, e que possui em suas leis obsoletas a síntese de um comportamento zumbi.
Ele não nos pertence, pois há muito já nos abandonara.
Esquecam Deus. Ele morreu.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Por uma chance no céu

Há sempre uma nova chance para o pecador.
Aquele que comete erros na pretenção de parecer alguém melhor.
Na intenção de exorcisar seus fantasmas e mostrar ao mundo que não se trata de dependência.
A verdade é que nos perdemos.
Felizmente, Deus nos vê.
A minha crença é em algo superior, não como uma forma de escambo, mas apenas graças recebidas.
Se trata da autoavaliação e autocrítica, sobre o que nos tornaremos.
O divino é assim pra mim, um sinal sempre alerta que nos faz acordar nos momentos de tormenta, de onde provém a consciência do que somos realmente.
Senhores de nós mesmos e, em certas horas, só o bem pode nos salvar.
Um anjo em minha vida.
Com sua palavra de livre arbítrio me fez perceber que eu não poderia ignorar minha essência.
Não tenho essa tendência da autodestruição, é tudo falso.
Preservo as coisas que valorizo, e você resgatou meu valor.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Rápido, sem o intuito de ser muito preciso

Eu quero ter muitas faces, todas diferentes e que se contradigam.
Em algumas passagens, quero estar errado, e serei questionado.
Ser cobrado pela vida só mais tarde, e errar por enquanto, tão quanto eu possa.
Observar o mundo pintado com as mesmas cores que eu imaginava.
Desejo ser inconstante, ser de lua e mudar quando for preciso.
Sem a capacidade de prever o futuro, mas com a mínima possibilidade de prever minhas ações.
Um pouco de caráter só faz bem.
Muito de qualquer coisa é suicídio, próprio e coletivo.
Você não me conhece, não pense que me conhece.
Sou o homem errado.
Parecerei alguém contraditório, uma pessoa que só queira te ferrar.
Não espere uma reputação coerente, também estou perdido.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Ato impensado, máscara adotada

Meninas que hoje querem mostrar para o mundo quão frias se tornaram.
De certo, algum trauma em um relacionamento mal sucedido, onde a entrega foi maior que a inocência.
Daí temos jovens frustradas tão cedo, desacreditadas de algo que seja verdadeiramente mais romântico.
Se antes buscavam na aparente decisão de um cara que lhes fizessem valer suas verdades, hoje apoiam-se no desapego.
Reduza-o à tequila, comprima-o na dança. É assim que algumas encaram.
Outras viram lésbicas. Outras tornam-se frígidas.
Algumas vadias revoltadas com as escolhas precoces de se crer num relacionamento maduro. Não é nada disso.
Já me disseram que a única diferença entre tais garotas e as profissionais do sexo é que à essas pagamos com antecedência. Isso está se tornando uma verdade incontestável, sad but true.
A mulher se perdeu. Confunde-se ser puta com ser independente.
Está errado, muito errado. Mudemos essa situação desconfortante.
Não precisas transparecer na dor de ser aquilo que não é a frustração por alguém que não vale esse esforço reflexivo.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Efeito borboleta

Sim, eu estava errado.
Não quis fazê-la chorar. Suas cicatrizes foram abertas.
Novamente, injustamente.
Uma dor que se inicia, uma lágrima que cai.
Outra palavra que se perde. Erros que me tornam menos verdadeiro.
Me desculpe, eu menti.
Os pincéis não encontram as cores, o significado foge às palavras.
O sentido, distorcido, busca refúgio sob meu desespero.
Por onde andam as frases de redenção, o apoio fraterno?
Preciso buscar uma fuga. Deus, eu necessito de forças.
Me perdi, estou aquebrantado. Culpe à mim.
Se tudo que peço é seu perdão, me perdoe.
Eu morreria. Eu mataria.
Mil pecados fariam de mim um homem sem alma?
Alivie essa imensa carga que tenho levado.
Sem promessas. Sem propostas emotivas.
Me cure. Me salve.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Versos da piedade

Liberte minha juventude de sua opinião. Não quero ser salvo.
Moldar as almas ao seu redor, encaixá-las em suas pretensões.
Não sabes encarar as diferenças. Isso é algo que te incomoda.
Teu medo a torna alguém medíocre, demasiadamente hipócrita.
Não aprendeu ainda a lidar com esse tipo de situação, alguém que não caiba em seu propósito de perfeição.
Você está enganada.
Abra a cabeça, tente compreender as pessoas como um mosaico na Terra.
Se preza tanto por um mundo perfeito, comece por você.
A intolerância é a mãe das guerras, assim como o falso moralismo justifica a maioria delas.
Não queira ser mais uma que aponta o dedo e julga com extrema imprecisão.
Não queira ter seu teto de vidro abalroado por minha veia sádica.
Talvez sua pouca experiência de vida ainda lhe confira certa inflexibilidade.
De certo sua inocência alia-se à pureza romântica, e aí frutifica tantas impossibilidades morais.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Ballerina

Já escrevi lindas palavras e formei belas frases
Muitas se perderam na imensidão do incerto, outras guardei na certeza dos sinônimos
Já traduzi em melodias sentimentos que vêm do coração
Refiz um milhão de imperfeitas tentativas, forçei na razão coisas que só a alma consegue diluir
Digeri versos, arrotei palavrões, erradiquei o comum e rimei os refrões
Na intensão proferida por minha livre associação, cometi erros
Na pretensão não intencionada, acertei na maioria das vezes

O chapéu que traz o charme é a manga que oculta a carta

Já disseram por aí que, para certas coisas na vida, já se nasce sabendo.
Mas nem todas as pessoas são boas observadoras - constantemente são enganadas por suas deficientes capacidades emocionais.
Nesses tempos tem se observado certa glória na auto afirmação à cerca da malandragem. Um convite à ridicularização da figura.
É uma via oposta - se de um lado temos a forçosa caricatura banalizada de um malandro fajuto, do outro podemos antever com certo ar opositor a resoluta imagem do malandro já formado no berço.
Não é questão puramente estética, refere-se à algo que poucas pessoas valorizam - a capacidade de análise profunda e crítica.
Não apenas olhar os tipos humanos, mas sim observá-los, analisá-los com a perfeição que só o detalhista consegue em um curto espaço temporal. Como se o tempo ocioso que os restasse tendesse ao infinito.
Tendo em vista uma sociedade tão superficial e dinânica, é normal que isso ocorra, afinal, não podemos perder mais tempo com essas tolices, vamos viver o hoje porque o amanhã só pertence a Deus.
É fácil enganar os olhos rasos. É fácil ser enganado por sorrisos largos.
Seja um bom intérprete e atuará como ator principal; na vida moderna os coadjuvantes são os preguiçosos.
Muitos caricatos convencem à si mesmos de que isso seja real. Algumas pessoas ao redor sabem que algo está errado, e que não seria tão cômico se fosse trágico.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Before your heart breaks

Estou preso em um labirinto.
Me sinto só. Minhas dúvidas fazem tudo parecer mais difícil.
Queria não procurar compreender, e só deixar acontecer. A vida parece muito complicada, para mim.
Levo comigo a proposta da dor noturna, da solidão constante. Mas também valorizo atitudes felizes.
Momentos assim, por vezes, transparecem certo ar de falsidade. Apenas uma obrigação na vida de cada um.
Não importa como venha, mas que faça valer o significado de viver.
Os encontros, os sorrisos embreagadamente espontâneos, e não o contrário - isso me assusta.
A fatalidade da tristeza entra em cena.
Mais uma parede em meu caminho, outra curiosidade proferida por dentro.
Cristão ou ateu, pouco importa, se você tem outro tipo de droga.
Sozinho, sem opções ou fuga. Bate o desespero. Tudo, tudo é idiota, sem sentido, sem brilho, sem charme.
A beleza é estéril e não se frutificam bons frutos.
Me alimento de possibilidades. Mas o que me assacia está um pouco além.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Nirvana

Caminhando por entre suas pernas, lhe tomo pela horizontal
Transferindo minha euforia por tuas curvas, através dos dedos, deixando teu cheiro me embalar
Guio-me pelo seu calor, prossigo com desejo aparente, não hesito
Minhas intenções seguras, o diabo na minha carne
Segurá-la pelos cabelos, beijar a tua boca, chupar os teus seios com deleite
Aproximar-se mais, a união de nossas almas, com carinho, com firmeza
No movimento dos astros, meu corpo no teu, teu corpo no céu
Permitindo que teus gemidos me guiem, algo de mim dentro de você
Transparecendo o amor evidente, desmereçendo os enamorados ao nosso redor

Mude

Lhe falta um pouco de amor próprio, algo de que possa se orgulhar
Manter certa moral, ou alguma coerência naquilo que fazes
Estive longe só te observando, e aí percebi que não ages com natureza
És forçosamente rebelde, desesperadamente diferente
Seu riso frio apenas pinta em sua face o fino pó da hipocrisia
Já disse isso várias vezes, não serei repetitivo por mais tempo
Tome sua pouca força que resta, interiorize aquilo que você prega nas manhãs de domingo
Exteriorize seus medos, então terás evidenciado seus pecados e feiuras
Mas não se preocupe, se lhe falta algo de amor próprio, lhe sobra a auto crítica
E esta costuma ser mais eficiente em se tratando de mudanças