segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

28/12

O céu, colorido pelas passageiras nuvens de vermelho, traz à tona o celestial contraste entre a densidade de sua tímida tonalidade e a imensidão da temporária e majestosa nebulosa angelical

sábado, 19 de dezembro de 2009

O que servirá contra a escuridão, servirá contra o lobo

Vá em frente, escolha os melhores frutos que encontrar e, no final, traga-os à mim. E, assim, deixou-me ir. O tempo não importava. O real valor da tarefa, incumbida à mim, estava em cumprir a lição. Fui.
Pelo caminho, encontrei frutos dos mais variados tipos, alguns cheios de vida, outros apodrecidos. Não preocupei-me sobre qual direção seguir, nem dei atenção ao movimento dos astros. Anoiteceu.
Lembro-me de ter dito à mim: a escuridão não existe, é apenas ausência de luz. Como um rio que não seca, somente lhe falta um pouco a mais de água. O desespero fez tudo isso parecer mentira. Corri, corri, abandonei as frutas, cai, machuquei-me. Corri ainda mais.
Ora, que desastre, onde estão os frutos, onde está a disposição? Revelar meu medo transformaria todo o desagradável fato ocorrido em um perturbador erro cometido. Fugi, pai, fugi. Um imenso animal com a ferocidade à mostra perseguiu-me, covardemente. A natureza nos impõe certas leis injustas, nem sempre o mais forte deveria ser o merecedor. O senhor vê? Tudo bem, volte lá amanhã, demonstre coragem e assuma sua indignação com Deus. Foi o que fiz.
Agora, preparada, levei uma lanterna. Pelo caminho, encontrei frutos dos mais variados tipos, alguns cheios de vida, outros apodrecidos. Ironicamente, deparei-me à frente com um lobo feroz. Não hesitei, atirei-lhe com toda força a lanterna, bem na cabeça. Ele correu, correu, cheio de dor e medo. Um dejavu produzido pelo instinto da sobrevivência. A cesta já estava cheia, então retornei à casa, quando ainda o sol se fazia brilhante. Papai ficou feliz.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Santa Claus Pride

Certas vezes (e não foram poucas) me peguei pensando sobre estes dias natalinos.
Opondo-se ao senso comum, mas nem por isso mais praticado, acerca das crueldades natalinas, ponderei toda a beleza exclusiva desses tempos, a estranha felicidade que nos torna um pouco mais crianças, quando vemos luzes coloridas refletindo sobre o asfalto molhado. E aí me veio à cabeça também aquele doce cheiro de natal, o indescritível aroma natalino. Mas, infelizmente, não são todos que podem sentir a benção que essa época representa em nosso imaginário.
Hoje, fui abalroado novamente com essa onda de pensamentos. Alguns mendigos na rua eu observei, e mais adiante garotos pedindo algumas moedas. Certamente eles não poderão sentar no colo do velho noel e, ao menos, ganhar balas doces. O velho caminhão vem subindo a rua, aquele mesmo espírito de que a feliz data se aproxima se torna forte, desde então. Todos correm para ver, tirar fotos.
O natal é um espetáculo majestoso e cruel. Sob o signo da caridade, das tão apreciadas confraternizações, bordamos no véu da hipocrisia a figura emblemática do menino Jesus, o bom e salvador Cristo. É tempo de renovação, mas tudo parece ser mais do mesmo. Retrocedemos a cada dia. Distribuindo nossa ignorância a quem nos oferece um pouco de educação, vomitando opiniões desencontradas sobre vidas vazias de sentido. O natal é mais uma piada cristã. No final estaremos momentaneamente felizes, empanturrados pela gordura natalina, apaziguados pela benevolência divina. Alguns um pouco mais ricos, outros desejando ser, aquele momento, eterno. Mas quem se importa? Afinal, é tempo de renovação, e tudo continua igual.
Tentamos esquecer nossas vidas medíocres, tentamos escapar um pouco da realidade e que se foda quão hipócrita isso possa parecer, temos de ser felizes apenas hoje, desse jeito. Amanhã, novamente, todos apontarão os dedos, julgarão segundo suas crendices superficialmente adquiridas por seguidas doses de cultura idiota. O natal é sínico. O natal é sádico.

Auto-Análise

Sob a planta dos meus pés habitam dúvidas.
Algumas eu trago sempre comigo, outras faço questão de passar por cima.
Sobre a ponta do meu nariz uma libélula pousa.
Repousa e traz à mim a pretensão do auto-conhecimento.
Há esperança no fundo da minha alma; existem outras mil descrenças orbitando por lá.
Caminho rumo à minha existência perdida talvez aqui, ou quem sabe lá.
Descubro possibilidades que me agradam, e também segredos indigestos.
Assumo a responsabilidade, mas não a culpa.
Boas intenções se bastam, apenas no meu caso.
Então, entrego pra Deus como que num devaneio profundo e sem volta.
Porém, as consequências me tornam sempre o mais inoportuno às situações que me envolvem.
Trago em meu peito a perfeita sintonia entre o certo e o errado, e a aparente contradição entre o feio e o belo.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Dom João Conciso de Marcos

Muitos caras queriam estar na minha situação. As mulheres se perdem na busca momentânea, quando da minha presença, sobre o segredo disso que as tanto atraem.
Tento sintetizar de uma maneira simples: é como se fosse feromônio liberado constantemente e que transmite certo ar fatal.
Bem, rapazes e moças, veja que isso não é um mistério a ser guardado à sete chaves. Vou lhes dizer, o truque está na observação. Sim, observar.
Não é sobre estudo, não é algo metodológico. É puramente instintivo, empírico.
Diz respeito àquelas coisas que aprendemos com os varões ascendentes, ou então nos filmes.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Corazon espinado

Ele me deixou sem ação, completamente desarmada...
Chegou de sopetão, disse coisas que até agora não encontro o motivo de tê-las dito...
E assim me fez estremecer: a indiferença deu lugar a dúvida, e essa é a mais perigosa aliada...
O próximo passo talvez seja eu correr atrás dele, como uma proposta de curiosidade...
No ato direi-lhe, num tom dissonante de minha alma, "Por que disse aquilo?"...
Palavras tão bonitas parecem não serem sinceras...
Eu espero que me pegue com decisão, olhe dentro de meus olhos e lance a certeza pela janela da alma...
Tenho desejos de que sua explicação me faça, ao mesmo tempo, sentir confortável e insegura...
Quero tudo e agora...
Meu orgulho bobo, o péssimo hábito de hesitar, pecando por falta sempre...
Vou te ligar, esquecer que sou uma menininha romântica, ouvir a sua voz grave que me aquece...
Sem você nada pode fazer sentido, não há razão sem sentimento...
Amanhã talvez possa ser tarde demais, posso descobrir que aceitou aquele convite pra jantar...
Serei sua sempre, não importa o que aconteca, saiba disso de alguma forma, leia meu pensamento...
Se acredito em príncipes encantados, por que não acreditaria em telepatia?

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Uma fonte que não seja a da juventude

Poucas coisas realmente mudam.
Em nossas vidas, pessoas entrem de maneira rápida, inesperada - saem da mesma forma.
Primeiro são alguns dias, depois eles se tornam meses;
os anos estão passando e cada vez mais parecemos estranhos uns aos outros.
Lhe vejo na rua, reconheco-te, não cumprimento-lhe.
Parece ser algo frio, insensível. Todavia, isso é uma coisa comum.
Talvez por ser comum não pareça menos normal - sim, é isso o que quero dizer.
Não posso atribuir outro adjetivo senão este: estranho. É repetitivo, eu sei.
Contudo, é assim mesmo que percebo como pessoas que outr'ora investiram parte de seu precioso tempo juvenil em experiências comuns, hoje já não se falam, não se valem e em muito se contradizem.
É duro, mas a vida é assim. Uns vem, outros vão - poucas coisas realmente mudam.
Percebo, ainda, que há sempre mais do mesmo. Parece que todos vão se restringindo ao seu determinado grupo;
especificam-se tanto até o dia inesperado da morte.
Talvez não tão longe, isso foi um exagero, uma livre associação. Mas também há uma fusão de estilos.
Do nada as pessoas vão formando famílias, definindo suas escolhas como certas e a vida vai se tornando mais madura.
Certo desespero lhe bate a porta então - estou muito atrasado ou são eles que envelhecem rápido demais?
O fato é que minha vida não mudou muito, é verdade. Algumas novas experiências - nem todas apreciáveis. Algumas poucas tristezas, muito menos ainda os momentos de provável realização.
Um cinzento aspecto dessa minha vida - os anos se passaram e me encontro ancorado neste gélido terreno infértil.
Poucas coisas são as que realmente mudam. Muitas coisas são iguais, se mantém, são parecidas.
Escrevo rápido, com o intuito de parecer certo, ou de não parecer pretencioso demais. Porque não estou sendo meticuloso, agora?
Em todas as coisas que faço sou cuidadoso, o mínimo é o detalhe.
Bem, acho que já especifiquei e generalizei, quer dizer, só generalizei.
Mas, implicitamente, e muito superficialmente e obviamente implicitamente, é claro que me refiro a pessoas que conheci.
Porém, isto é algo universal, um tema bem abrangente, não?