segunda-feira, 21 de junho de 2010

Dissonante

Alvin sabia que algo deveria ser feito. Mas não seria ele quem daria este importante passo que, apesar de não ser o primeiro, possuía certo caráter de urgência.
A próxima ação era vital.
Mesmo o amor tendo lhe aberto as pernas do orgulho, ainda existia um fundo falso onde toda a responsabilidade por um relacionamento já havia adquirido a alcunha de barganha. Era como se ele, o mendigo Alvin, propusesse escambo ao diabo, oferecendo sua dignidade de homem como moeda de troca.
Pensava Agnes ser ele o seu único e perfeito reflexo. Mas até mesmo os espelhos não conseguem refletir por completo. Aquebrantam-se sobre sonhos mal alimentados. Sentimentos insuficientemente interpretados.
Agnes e Alvin não gastavam os créditos do amor.
De um lado, a persona do pródigo romântico. Do outro, a feminina alma oblíqua.
É verdade, se por alguns momentos compensavam as naturezas reciprocas na melodia do ardor, por tantos outros esqueciam-se no amargo sabor de qualquer harmonia.
A esperança de Alvin perdia-se nas entrelinhas de suas palavras. Uma aranha presa em sua própria teia.
Agnes, constantemente sob o piloto-automático, estava presa no âmbar da incapacidade em promover uma doce palavra sequer.
Erva daninha do bem querer.

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