sexta-feira, 25 de junho de 2010

Mais uma vez

Depois da tempestade, a cegueira então se foi. Retirei da lama minha própria alma, e assim minha sensibilidade tomou força novamente.
Revigorado, meu espírito na primavera das emoções sinceras.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Manual prático do homem moderno, ou não

Um homem não precisa de muito para ser feliz.
Basta que não lhe falte um pouco de amor, algo de cultura, o bastante de alcóol e muito de gordura.
É preferencial que o amor não seja o de mãe, nem que a cultura sirva para criar um isolamento imbecilóide.
Há de se ter bom senso e não negar a natureza humana - animal indissociavelmente social.
Cultura para que não lhe falte o assunto, e apenas isso.
Gordura. Um homem necessita da constante auto-destruição. Com a real finalidade de propor a originalidade de sua natureza, o homem se vê capaz de introduzir em seu corpo calorias e mais calorias, abastecidas pelo sensato desejo pela comida. Novamente, apenas satisfação momentânea em doses não homeopáticas.
O bastante de álcool lhe fará perceber as pessoas ao seu redor mais interessantes, menos bestiais ou chatas. O mundo se torna belo e, sem hipocrisia ou falso moralismo, o melhor revelador dessa beleza escondida é o álcool.
Fica subentendido que dinheiro é necessário.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Dissonante

Alvin sabia que algo deveria ser feito. Mas não seria ele quem daria este importante passo que, apesar de não ser o primeiro, possuía certo caráter de urgência.
A próxima ação era vital.
Mesmo o amor tendo lhe aberto as pernas do orgulho, ainda existia um fundo falso onde toda a responsabilidade por um relacionamento já havia adquirido a alcunha de barganha. Era como se ele, o mendigo Alvin, propusesse escambo ao diabo, oferecendo sua dignidade de homem como moeda de troca.
Pensava Agnes ser ele o seu único e perfeito reflexo. Mas até mesmo os espelhos não conseguem refletir por completo. Aquebrantam-se sobre sonhos mal alimentados. Sentimentos insuficientemente interpretados.
Agnes e Alvin não gastavam os créditos do amor.
De um lado, a persona do pródigo romântico. Do outro, a feminina alma oblíqua.
É verdade, se por alguns momentos compensavam as naturezas reciprocas na melodia do ardor, por tantos outros esqueciam-se no amargo sabor de qualquer harmonia.
A esperança de Alvin perdia-se nas entrelinhas de suas palavras. Uma aranha presa em sua própria teia.
Agnes, constantemente sob o piloto-automático, estava presa no âmbar da incapacidade em promover uma doce palavra sequer.
Erva daninha do bem querer.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Por todas às vezes que fui negado

Já tenho minha arma engatilhada contra tua garganta,
basta esperar por um momento de descuido e tudo explodirá
Isso também me atingirá, isso também me afetará
Gosto amargo da morte, não sou eu quem vai morrer

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Fight Club

Quando você não dorme, os fantasmas vêm lhe assombrar
Sua cabeça ferve e borbulham pensamentos produtivos
Dignos de um ócio criativo adquirido após anos de não ter o que fazer
Essa cidade tem me sufocado, e a noite encontro o refúgio necessário
Como quando estamos à sós e o universo parece ser apenas seu olhar
É um prazer que me consome, e muito de mim escorre pelo ralo da madrugada
Um tiro no escuro para esclarecer um pouco as idéias, um milésimo de segundo que traz a razão de volta
Eu preciso exercitar meu ato falho algumas vezes ao dia, a simples necessidade do erro não proposital
Me sentir um pouco culpado pelo mal da humanidade alimenta meu desejo de fuga
Essa é minha grande depressão e minha gloriosa guerra

sábado, 12 de junho de 2010

A síntese do caos

Toda vez que procurava por respostas, acabava sempre no mesmo ponto onde outrora havia parado.
Hoje um jovem adulto, ontem uma inocente criança.
Abandonada pela injusta traição.
O monstro estava sendo criado. Primeiro, os pés, com a lama da desonra.
Depois, os membros inferiores, apoiados na solidez do rancor. Após isso, o corpo, sobre o tronco da incerteza.
Membros superiores, tentáculos de um pedido de ajuda. Cabeça não havia, até porque razão também não.
A insanidade então, fiel companheira, tornava os momentos de desespero, íntimos.
Ele se reconhecia em meio à todo aquele caos; era como se tudo isso lhe pertencesse.
Um gigantesco intrumento de cordas o confortava nos momentos onde as batidas de seu coração estremeciam a casa.
O jovem adulto um dia teve um encontro com esse monstro.
Eles se olharam, como em uma comunhão religiosa, e então se abraçaram.
A nova criatura tomou vida. Com a cabeça do homem e o corpo do monstro, assumiram o papel do Frankenstein social.

O Beijo de Judas

Somos os grandes responsáveis pela desventura feminina.
Sim, nós, os homens, nos tornamos os grandes culpados. Vomitem toda a razão sobre nosso bigode.
Porque canalhas, mesmo tingidos pelo charme vistoso do não se valer, não passam de suporte.
Apenas um suporte sexual orientado aos momentos oportunamente gozáveis.
Gênero e sexo podem não se corresponderem, mas haveria de se ter certa coerência, no mínimo.
Me parece que isso é pedir demais.
Pagamos um alto preço pela História; quem me dera essa fosse apenas uma estória.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Pela necessidade da compreensão

Paulo dizia que o mais importante era se sentir bem.
Mas ele mal sabia se o preço que tinha de ser pago deveria ser levado em conta.
Bem, a razão de José dizia que sim.
Mas Paulo era muito mais sentimento que razão, e desde muito cedo sempre foi assim.
Aprendeu levando na cara.
Paulo era sentimental, e José, racional.
Todos vão envelhecendo, mas a fera interna vez ou outra desperta.
Como uma navalha que corta seu rosto quando você está concentrado, algo de muito ruim apertou seu coração naquela noite.
Toda a razão de José fora posta defronte ao seu maior medo, a insegurança.
Sim, porque na certeza de suas afirmações subjetivas é que residia sua razão.
E quando esta, abalroada pela força máxima de um desgosto profundo, se encontrara frágil, eis que a esperança surge com Paulo.
Pois Paulo representava toda a capacidade humana de superar as frustrações apenas pelo desejo de viver algo melhor.
Sim, Paulo é a esperança perdida de José, que não exercitava nem um pouco sua flexibilidade emocional.
Foi então que José e Paulo entraram em um comunhão, quase que espiritual.
Se Paulo era o mais sentimental, José o criticava amparado por sua lógica infalível.
Se José era o exageradamente racional, Paulo também o acusava de ser demasiadamente insensível.
Sobre isso, não restaram dúvidas, trocaram experiências e selaram um novo acordo - algo bem parecido como quando os noivos firmam o matrimônio.
Dessa maneira, Paulo e José puderam apoiar-se um ao outro, não como um amigo ou outra coisa qualquer.
Aquela ligação era algo mais intenso. Na humildade de se assumirem humanos, se propuseram ao entendimento.